Em sistemas de pastejo rotacionado existem dois pontos fundamentais que, na grande maioria das vezes em que se fala no assunto, são pouco explorados: estrutura e mão de obra. E são justamente eles que vão mudar a maneira como você pensa sobre essa estratégia: como você relaciona estrutura do pasto e mão de obra?
Na verdade, o manejo de pastagens já é um assunto muito explorado mas não em sua totalidade. Por isso, neste conteúdo vamos fazer correlações entre comportamento animal, gestão de pessoas, manejo de pastagens e estrutura do pasto. Para que, desse modo, você possa entender um pouco mais as nuances do planejamento alimentar a pasto que melhoram a produtividade do rebanho.
Altura do Pasto x Comportamento Animal
A altura do pasto é uma maneira de nortear o manejo de pastagens de forma prática, de baixo custo e eficiente, onde o ajuste correto entre a altura de entrada e saída de animais da pastagem é fundamental para a eficiência produtiva do sistema como um todo.
Isso acontece porque várias pesquisas já foram realizadas com as mais diversas forrageiras. A literatura científica já dispõe dos valores das alturas de entrada e saída das mais utilizadas nos sistemas de lotação rotacionada.
Mas, justamente por ser a forma mais prática de entender em que ponto exato fazer a entrada e saída do rebanho, esses dados acabam por reduzir nossa percepção do todo.
A altura de entrada recomendada para o pastejo é embasada no ponto em que a planta se encontra com a maior participação de folhas, poucos talos e pouco material morto.
Entendendo Forragens
Quando a planta começa a crescer partindo do solo, ela acumula principalmente folhas, chegando a um ponto em que o acúmulo de folhas é máximo. Desse ponto em diante, a planta começa a acumular talos e as folhas da base começam a morrer, esse é o ciclo da vida da planta.
No que diz respeito ao gado, as pesquisas mostram que, ao observar o comportamento dos animais em pastagens com essas alturas de entrada, ocorre um maior consumo do pasto, daí, surgem esses número ideais. Isso porque, nesse ponto, a altura de entrada é altamente correlacionada com a estrutura do pasto que é essencialmente ligada à quantidade de folhas.
Estrutura de Pastagem x Entrada e Saída de Pastejo
Estrutura da pastagem é a distribuição espacial das folhas em determinado pasto, é a relação que se estabelece entre folha, colmo e material morto. Em outras palavras, nós precisamos saber a disponibilidade das folhas no pasto para entender a facilidade com que o animal tem de consumi-las.
Afinal, a estrutura do pasto interfere na produção de capim, assim como no consumo e qualidade do mesmo para o animal, afetando o seu desempenho.
Entrada: o que o animal prefere comer e como usar isso em seu benefício?
Já se sabe que entender e conhecer as preferências do rebanho é extremamente importante para qualquer pecuarista. No quesito pastagem, para o rebanho, a qualidade do pasto é correlacionada com a quantidade de folhas. Então, quando se pergunta o que o animal prefere comer em determinado pasto, a resposta com certeza é: folhas.
Por isso, para garantir um bom consumo, precisamos relacionar a altura do pasto com a estrutura do pasto! Falando assim pode até parecer óbvio, mas nem todos conseguem manter essa associação.
Isso acontece porque, no início do crescimento do capim, quando ele cresce rente ao solo, a estrutura do pasto é 100% correlacionada com as alturas de entrada recomendadas pelas pesquisas. Entretanto, é comum no campo encontrarmos pastos que, por algum motivo, passaram do ponto.
Isso contribui para a formação de uma estrutura de pasto desfavorável, caracterizada por maiores acúmulos de colmo e de material senescente da base das plantas. Com o avançar dos ciclos de pastejo, o capim eleva o seu resíduo, o que pode promover pastos com alturas iguais e com estruturas diferentes. Assim, com o tempo, podemos ter dois pastos na mesma altura, porém com estruturas completamente diferentes. Veja as fotos abaixo:
Fonte: Jayme, D. G. (2010).
Nessa situação, você saberia onde colocar seu gado para gerar melhor produtividade? A sacada é sempre colocar os animais nos pastos onde tem a maior quantidade de folhas.
Isso porque os animais, quando podem escolher, comem apenas a parte mais nutritiva das plantas (que são as folhas), rejeitando os materiais senescentes e os mais duros, como os colm
Como os ciclos podem afetar a saída?
A estrutura da pastagem também é importante na saída dos animais do pasto. Isso acontece porque a quantidade de folhas que sobra após o pastejo assume grande importância para aumentar o vigor da rebrotação devido à produção imediata de nutrientes para a planta por meio da fotossíntese.
As folhas que ficam no resíduo proporcionam à planta uma menor dependência dos nutrientes do solo para a sua recuperação. Afinal, a planta acumula naturalmente reservas de nutrientes na base do colmo e nas raízes, onde estes são usados no início da rebrotação. De modo geral, logo que a planta inicia a rebrotação e há aumento do número de folhas, as reservas não atuam mais como energia para a rebrotação e passam novamente a ser acumuladas.
Por isso o efeito dessas reservas pode, em parte, ser compensado por uma boa quantidade de folhas restantes após o pastejo, resultante de pastejos menos drásticos que possibilita o reinício do crescimento da pastagem. A participação de folhas no resíduo é um atributo estreitamente relacionado com o manejo da pastagem e com a capacidade potencial de rebrotação da forrageira.
Quando o pastejo é mais intenso, a planta gasta as suas reservas e precisa mais das raízes para a rebrotação, o que exigirá nutrientes do solo. Dependendo da fertilidade do solo, a adubação será necessária para manter o sistema produtivo. Na foto abaixo, temos dois pastos de capim Braquiarão, um à esquerda que foi intensamente pastejado e outro a direita em que o pastejo não foi intenso.
Fonte: Lara. M. M. E. (2013).
O pasto da esquerda que foi mais intensamente pastejado tem poucas folhas no seu resíduo, o que provavelmente atrasará a rebrotação e exigirá mais das raízes da planta e do solo. Já o pasto da direita tem mais folhas no seu resíduo, o que favorece a rebrotação e exigirá menos das raízes e menores quantidades de nutrientes vindas do solo.
Desse modo, o pasto da esquerda tem maiores chances de entrar em degradação caso não ocorra a reposição de nutrientes via adubação.
Comportamento do Rebanho frente à forragem
Agora, pensando no animal, que é o ponto mais importante, visto que o pecuarista não vende a produção de forragem do pasto, mas sim o produto animal, a afirmação que pode ser feita é: à medida que o pasto vai sendo rebaixado, pior fica a produção em termos de quantidade e qualidade.
No primeiro momento que o animal entra em uma pastagem com boa estrutura, ele consegue facilmente encher a boca. À medida que o pasto é rebaixado, o animal precisa aumentar o número de bocados para encher a boca até que chegue a um ponto que o animal não consegue compensar.
Além disso, à medida que o animal rebaixa o pasto a proporção de folhas diminui e a tendência é o animal encontrar e ingerir colmos, o que piora a sua dieta e vontade de consumir no pasto
Novas pesquisas e suas aplicabilidades
Em pesquisas recentes realizadas pelo professor Paulo César Faccio de Carvalho e sua equipe, a recomendação de saída dos animais em pastagem visando o melhor consumo pelos animais é com relação à proporção de desfolha.
As pesquisas mostraram que os bovinos, em condições naturais, removem no máximo metade da forragem disponível por horizonte de pastejo. Ou seja, comem camadas sucessivas de forragem, sempre na proporção de 40% a 50% da altura de entrada.
Com base nas recomendações de altura de entrada e saída, sejam estas últimas como um valor fixo ou em proporção de desfolha, o bom senso é fundamental para o manejo adequado do pastejo rotacionado.
É claro que devemos buscar sempre otimizar os fatores que impactam no ganho de peso dos animais a pasto e entrar e sair com os animais no pasto com a altura recomendada é uma boa prática. Entretanto, não podemos ter altura como regra em situações em que a estrutura do pasto não é favorável ao consumo máximo pelos animais.
Fonte: Corsi, M. (2008).
O manejo ideal é particular de cada fazenda, pois depende de diversos fatores como nível de adubação, da categoria animal, do momento em que se encontra dentro da estação das chuvas.
Podemos, por exemplo, no início da estação “forçar” um pouco mais o pastejo para controlar o crescimento do capim e não perdermos o ponto certo do pastejo nos ciclos posteriores, dentre outros.
Estratégias para ajustarmos o manejo
São várias as estratégias de manejo, como manejo com lotes desponte-repasse, confecção de silagens de pastos passados, alternar a adubação, aumentar ou diminuir a taxa de lotação, aumentar a velocidade do giro dos animais diminuindo o período de pastejo em cada piquete, etc.
Dentro delas, cada situação tem sua particularidade e com certeza alguma irá se encaixar no modelo ideal para o seu negócio. Mas a partir daí surgem outras problemáticas.
Agora que sabemos da importância de manejar o pasto observando a sua estrutura, surge um ponto importantíssimo: Quem realmente irá manejar o pasto no dia a dia da fazenda?
Não é a consultoria nem o proprietário, e sim a equipe de campo. Por isso, precisamos que o time da fazenda esteja alinhado quanto à forma de manejar a pastagem e tenha total autonomia para tal.
Para isso é necessário um treinamento tanto técnico quanto motivacional. A equipe precisa saber da importância do manejo, das metas de entrada e saída, das metas de consumo de sal mineral ou qualquer mistura, e principalmente das metas de ganho de peso.
Além disso, a equipe precisa estar consciente da importância da função de manejar o pasto corretamente e se sentir valorizada por isso. Condições constantes de alinhamento como um check de metas e os elogios frequentes devido à correta condução do manejo são essenciais para colocar a situação nos eixos e motivar o time.
A facilidade da operação varia de fazenda para fazenda. O importante é que a equipe trabalhe da melhor forma para o seu dia a dia, seja medindo a altura e anotando em uma folha na prancheta, em “bloquinhos de anotação”, celular ou outra forma de controle.
A equipe precisa realmente vestir a camisa da fazenda. O objetivo é facilitar a forma de fazer o manejo para que não seja uma atividade estressante para os colaboradores. Essas questões precisam ser ajustadas em conjunto entre o proprietário da fazenda, a consultoria e a equipe de campo.
Atualizado em 03/04/2023 por Eduarda Padrão.
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