Fique atento à qualidade da mistura nas dietas do confinamento!

Evoluímos muito em termos de formulação e ajuste de dietas para confinamento nos últimos anos.

Passamos a utilizar rações com maior inclusão de concentrado (principalmente subprodutos), a avaliar o custo da arroba produzida e não somente o menor custo da diária, a avaliar a necessidade de proteína ruminal para crescimento microbiano, ajustar a dieta para nível mínimo de fibra fisicamente efetiva, etc.

Mas e a qualidade das dietas em termos de mistura de volumosos e concentrados, a chamada dieta total, ou como prefere a maioria dos nutricionistas, TMR (total mixed ratio), temos dado a devida atenção? Nesse texto você vai entender porque isso é tão importante e como começar a testar essa mistura!

A ração de confinamento

Na verdade, toda ração de confinamento pode ter quatro composições diferentes:

• A ração formulada no computador;
• A ração misturada para ser fornecida;
• A ração oferecida aos animais;
• A ração consumida; a que realmente os animais consomem.

Esta última deve receber muita atenção por parte do nutricionista. Será que a dieta que você formula, é a mesma que o seu rebanho consome? Não adianta balancear a melhor ração, se a mesma não chegar ao cocho para ser consumida pelos animais.

Deve-se evitar ao máximo a seleção de ingredientes e partículas pelos animais (principalmente em dietas de alto concentrado).

Animais com livre acesso aos alimentos geralmente separam os ingredientes por tamanho e densidade de partícula e consomem os componentes preferidos. O consumo seletivo de ingredientes ricos em amido, por exemplo, pode resultar em distúrbios digestivos.

Como misturamos a ração e porque isso é importante?

Os sistemas de mistura de dieta (vagões misturadores) também evoluíram. No Brasil, temos basicamente três sistemas de mistura: um por tombamento, sistema de rotor e por roscas horizontais. Cada um com suas peculiaridades de tempo e qualidade de mistura, capacidade operacional, etc.

Mas muitos confinamentos ainda fazem trato de forma mais artesanal, manualmente, com carretas de madeira ou com vagões que apenas distribuem a dieta (os chamados vagões em camada ou sanduíche).

Estas diferentes maneiras de arraçoar os animais pode implicar em variações expressivas em termos de ganho de peso, consumo, conversão alimentar, presença de distúrbios digestivos, etc.

 O que eu devo esperar de uma ração perfeita?

O objetivo da ração totalmente misturada é garantir que em cada bocado, o animal ingira algo que esteja muito próximo do que foi estabelecido na formulação. Abaixo, seguem algumas considerações importantes:

Ingredientes

• Monitore o teor de matéria seca de ingredientes com maior umidade, principalmente volumosos como silagem e cana (pequenos erros podem levar a inclusões errôneas destes ingredientes);
• Ingredientes que são incluídos em menor quantidade (minerais, uréia, aditivos) devem ser agrupados em uma pré-mistura, reduzindo os erros de pesagem, mistura e permitindo consumo mais uniforme na ração espalhada nos cochos;
• Partículas finas (fareladas) segregadas no cocho podem conter um aditivo específico, o qual não será ingerido na quantidade necessária, podendo resultar em distúrbios digestivos;
• A adição de ingredientes úmidos (silagem, subprodutos úmidos) ou fluídos (água, melaço, óleo) irá reduzir a segregação de partículas pequenas durante a mistura e no cocho.

Mistura

• A ordem de adição de ingredientes em um vagão misturador pode influenciar tanto a eficiência de mistura quanto o grau de redução do tamanho da partícula;
• O tempo de mistura é crítico; a mistura incompleta resulta em oferecimento de dieta com apresentação inadequada no cocho (maior possibilidade de seleção de partículas), enquanto que a mistura excessiva pode causar segregação de partículas no cocho.

Trato

• O fornecimento mais frequente (mais tratos) reduz a magnitude e impacto de erros na mistura, possibilitando menor variação na composição da dieta;
• A maior frequência de tratos pode também ser benéfica para o ambiente ruminal.

Como fazer a amostragem corretamente

A amostragem, em diversos pontos (3 a 5 amostras), da dieta no cocho posterior analise bromatológica auxilia no monitoramento de qualidade. Deve-se comparar a dieta formulada com o resultado obtido na análise de cada amostra;

• A amostragem da sobra pode ajudar a determinar o grau de separação de ingredientes pelo lote. Caso a composição difira muito da dieta, a seleção é evidente.
• Dentro de um mesmo piquete, alguns animais preferem volumosos e outros concentrados. Por isso, em consequência, a análise das sobras não é um índice completo para avaliar seleção. A observação dos animais se alimentando e a inspeção visual dos cochos após a alimentação pode auxiliar;
• A observação das fezes pode indicar seleção no cocho. Se para um mesmo lote de animais, existem fezes com variação em consistência, coloração e composição diferentes, provavelmente os animais estão consumindo ingredientes seletivamente;
• Quanto maior a diversidade em tamanho e densidade de partículas, maior o potencial para a seleção de componentes da ração. A adição de água, peletização de microingredientes, ingredientes com tamanho de partícula uniforme e a restrição leve de consumo (manejo de cocho limpo) podem ajudar a reduzir a seleção;
• Em dietas muito secas, como, por exemplo, alto concentrado com bagaço de cana cru, a inclusão de água pode melhorar a qualidade de mistura e reduzir a presença de partículas finas e segregadas nos cochos.

É muito importante, independente do sistema de arraçoamento do confinamento, que o proprietário da fazenda realize, de forma muito bem estruturada, as rotinas de confinamento.

Dentro dela estão as tratadas nesse texto, as etapas de processamento do alimento, mistura da dieta e fornecimento aos animais conforme as recomendações técnicas, para que não ocorra a seleção de ingredientes no cocho e as consequências que resultam desta seleção.

Além disso, observar como os animais estão se alimentando, verificar as sobras antes do primeiro trato da manhã, avaliar as fezes, são ações fundamentais.

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