Matéria Originalmente publicada na edição 05/2019 da revista DBO
A companhar a rotina da fazenda de recria e engorda, dividida em 48 mulos de pastejo rotacionado, com 8 piquetes cada, sempre foi o desafio de Nilson e Vitor Alves, pai e filho, que, juntos, administram a NAAgropecuária, localizada no município de Montanha, região Norte do Espírito Santo. Para eles, que mantêm um rebanho de 6.000 bovinos distribuídos por 5.000 ha, controlar e ajustar a rotina da fazenda visando maior produção de
carne por unidade de área é meta fundamental. Para isso, a dupla tem recorrido, dentre diferentes tecnologias, a softwares modernos de gestão, que os ajudaram a melhorar sua lucratividade potencialmente nos últimos anos. Entre 2012 e 2018, a produtividade (rentabilidade da operação) aumentou em seis
vezes, passando de 1,2 para 7,5 @/ha/ano.
“O fundamental da tecnologia é o propósito. Se o pecuarista não souber identificar onde quer chegar, dificilmente saberá tirar proveito do que ela oferece”, disse Vitor Alves, ao relatar sua experiência para um público de 1.800 pessoas, presentes no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto, SP, entre os dias 2 e 5 de abril. Assessorada pela Prodap, empresa com sede em Belo Horizonte, MG, a NA Agropecuária foi laboratório para os primeiros testes de uma nova plataforma multigestão, também validada por outras 56 fazendas participantes do benchmarking da empresa, que têm sistemas diferentes de produção e uma coisa em comum: lucratividade acima da média Brasil.
“A escolha das propriedades parceiras não foi baseada nos resultados que elas apresentam, já que se trata de uma ferramenta de gestão que serve tanto para o pequeno, quanto para o grande produtor. Acontece que, quando se aplica uma inteligência artificial da porteira para dentro, existe um incremento direto de produtividade e temos observado isso de forma prática nos últimos anos”, disse Leonardo Sá, CEO da Prodap, durante o evento de lançamento da Plataforma Prodap views (softwares integrados + aplicativo), novidade que atraiu cerca de 100 pecuaristas para o Restaurante Cabaña, no Ribeirão Shopping, na noite de 2 de abril. Os primeiros testes começaram a ser rodados em setembro de 2018 e duraram exatos seis meses até que a plataforma estivesse definitivamente pronta para o mercado.
Ferramenta multigestão
A percepção de que a pecuária caminha para a automação dos processos foi o que levou a Prodap a extrapolar a tecnologia já aplicada nessas fazendas para algo maior, desta vez não mais focada em soluções de nutrição ou consultoria técnica (serviços que já faziam parte de seu portfólio), mas em tudo que envolva, efetivamente, o universo da propriedade. “O que queremos, agora, é garantir o ajuste fino no operacional, ampliando a visão do “todo” e identificando comportamentos comuns que possam eventualmente coibir ganhos adicionais, mesmo que em fazendas que já tenham boa parte dos processos sob controle”, diz o CEO da Prodap.
Na NA Agropecuária, que está entre as Top 5 do benchmarking da Prodap, quando a plataforma foi implementada, em setembro de 2018, a fazenda apresentava cerca de 50% de incidência de cocho lambido (deficiência no fornecimento de alimento para o gado), problema antes não identificado pelos proprietários. “Em outubro, conseguimos reduzir esse percentual para 3% e, em novembro, já o havíamos zerado por completo”, observou Leonardo Sá, garantindo: “Com a ferramenta, podemos checar se o vaqueiro está fazendo o manejo adequado de trato e identificar problemas de forma mais clara via aplicativo e software”. Até a inserção na plataforma, a fazenda seguia um manejo de rotina padrão, onde os pes percorriam a fazenda em corredores para checar o abastecimento e, também, a constância de mineral nos cochos.
“Quando vieram os primeiros resultados, ficamos surpresos. De 48 módulos, 10 apresentavam problemas, ou seja, os lotes ficavam muito abaixo do desempenho estipulado na meta. E isso não estava associado à falta de percepção da equipe, mas à maneira de comunicar erros do dia a dia”, avalia Vitor Alves. Das 57 fazendas que serviram de piloto para o projeto, 60% zeraram a incidência de cocho lambido, em apenas cinco meses, e cerca de 30% apresentaram redução de pastos mal manejados, no curto intervalo de três meses. “São ajustes que fazem a diferença no bolso do produtor”, conclui Sá.
Vaqueiro é protagonista
Durante o período de teste, a plataforma foi manuseada por 125 vaqueiros ou chefes de retiros, totalizando 8.200 pastos geridos, o que representa
165.000 hectares mapeados. “Esta etapa foi fundamental não apenas para a auditoria da nova plataforma, mas principalmente porque fez cair por terra a antiga ideia de que a chegada da tecnologia vai substituir o vaqueiro na fazenda. Pelo contrário, com a tecnologia ele assume papel de gestor de rotina, o que é muito interessante também do ponto de vista social, ao integrar a tecnologia na vida do trabalha dor rural”, acrescenta Jairo Candian, gerente de marketing da Prodap. Desde que a plataforma começou a ser implantada, já foram realizadas 60.000 coletas na base de dados, que deverá sofrer um “imput”nos próximos meses. “Amedida que vamos utilizando, percebemos que se abre um universo, pois quanto mais inserçs ocorrem, mais potente ela se torna”, acrescenta Leonardo Sá.
Os dados e utilização do aplicativo também são monitorados pela equipe da Prodap, que auxilia a fazenda na leitura das análises, uma espécie de feedback do gerenciamento. “Há algumas semanas, uma das fazendas usuárias deixou de nos enviar informaçs e, quando fomos checar o que estava acontecendo, descobrimos que o smartphone do vaqueiro havia quebrado. Ou seja, acabamos sendo os primeiros a avisar o gerente”, conta Breno Cerqueira, diretor de Tecnologia e Inovação da Prodap, que trabalhou no desenvolvimento do Views. “Essa gestão facilitada, mas também monitorada, é o diferencial da proposta. Queremos dar a ferramenta, mas, acima de tudo, também suporte para melhoria do processo”, observa. Desde que foi lançada, no início de abril, a plataforma já ganhou 10 novos usuários e deve chegar a 120.000 coletas até o segundo semestre deste ano.
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