PRODAP na mídia – Sem medo da tecnologia

Data: 20/09/19

Autor: Marcelo Saldanha

Matéria originalmente publicada na Revista DBO pelo jornalista Renato Villela

 

No dia em que Edílson Pereira dos Santos, o “Dil”, gerente de pecuária da Fazenda Es planada, em Montanha, ES, chamou o vaqueiro Ananias Nonato de Souza Filho para dizer-lhe que, dali em diante, tarefas rotineiras da fazenda seriam controladas pelo aplicativo Prodap Views para celular, “Dazinho”, como é conhecido, não teve dúvidas: pediu demissão. O motivo? “Sempre fui muito simples, não estava acostumado com tecnologia. Quando o Dil veio falar comigo, rapaz, me deu até uma ‘friagenzinha’ na barriga”, recorda. De bate pronto, sentenciou. “Não tenho interesse. Pode falar com o Vítor que não vou ficar”. O Vítor em questão é o administrador da Esplanada, filho do proprietário Nilson Alves, com quem divide a gestão dos negócios da empresa da família, a NA Agropecuária. Ele contou essa história para um público de 240 pessoas, durante o 2º Open Farm da RedeAgro, realizado em sua propriedade, em 22 de agosto, com o objetivo de difundir conhecimento. Trata-se de um excelente exemplo de superação e sucesso na incorporação de tecnologia, pois o pedido de demissão não foi aceito e, hoje, Dazinho está craque no aplicativo.

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O Open Farm (Fazenda Aberta) tem por objetivo mostrar acertos e erros cometidos dentro das propriedades rurais de pecuária de corte. “Vivemos um momento no qual as vaidades têm sido deixadas de lado e os produtores. se mostrado mais abertos à troca de experiências”, explica Bernardo Arruda Reis, diretor da Prodap, de MG, integrande da RedeAgro, grupo que reúne mais seis empresas do setor, além da Fundação Dom Cabral. Dentre os temas discutidos no encontro sediado pela Fazenda Esplanada, destacaram-se inovações tecnológicas, gestão, liderança e sucessão. Vitor Alves abriu o ciclo de palestras fazendo um breve relato de sua parceria com o pai, com quem começou a trabalhar em 2010. Falou abertamente sobre as dificuldades enfrentadas no início, devido a um choque natural entre gerações, em que a experiência de uma frequentemente se contrapõe às expectativas da outra. “Nem tudo são flores. Em muitos momentos, a relação ficou difícil, mas soubemos resolver os problemas dentro da família”, confidenciou. 

Dedicada à recria/engorda, a Fazenda Esplanada vem passando por um processo gradativo de intensificação, que começou com a readequação da taxa de lotação à forragem disponível e criação de módulos de pastejo rotacionado até se chegar ao confinamento, construído quatro anos atrás. Com este trajeto, a fazenda conseguiu elevar a produtividade na recria para 7@/ha/ano, o dobro da média nacional. A estimativa de Vítor é fechar 2019 com um rebanho de 6.050 cabeças nesta propriedade (a família tem três outras fazendas, também no oeste do Espírito Santo). Ela confina 3.150 animais por ano e destinará parte de sua área à agricultura na próxima safra. Para isso, os Alves estão construindo um grande reservatório de água, para atender quatro pivôs de irrigação. O objetivo é parar de comprar milho de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, que chega à fazenda por preço salgado (R$ 45/saca). “Queremos ser autossuficientes na produção de alimetos para o gado e ainda vender grãos”, afirma Vítor. O produtor já produz silagem de mombaça como volumoso e pretende fazer snaplage (silagem de espiga) em 2020.

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Tecnologia de Ponta

Durante o dia de campo, os visitantes puderam conhecer algumas novidades do portfólio das empresas integrantes da RedeAgro. João Paulo de Freitas, da John Deere, detalhou toda a tecnologia presente nas colhedoras de forragem autopropelidas da fabricante norte-americana. Com autonomia para colher de 90 a 180 t de massa verde por hora, dependendo do modelo, essas máquinas são dotadas de um sensor (Harvest Lab ou “labo-ratório de colheita”, em tradução livre), posicionado na calha de descarga (bica) e capaz de monitorar, em tempo real, parâmetros nutricionais, como açúcar, proteína e amido, além do tamanho das partículas e do teor de umidade do material cortado. “Conhecendo a qualidade da forragem a ser ensilada, o produtor pode direcionar a produção para silos diferentes, de modo a atender animais com exigências nutricionais distintas”, explica. O teor de umidade permite o ajuste fino no tamanho da partícula. “Material mais seco, por exemplo, pode ser cortado em pedaços menores, o que melhora a eficiência da compactação”, explicou Freitas.

Na tenda “Estação Agrícola”, montada ao lado de uma lavoura de milho, Dearley Brito Liberato, consultor da Irriger, empresa do Grupo Valmont, detentora da marca Valley, mostrou como a tecnologia pode ser uma aliada na gestão da água e do aumento da produtividade das lavouras. Liberato discorreu sobre a importância de uma estação meteorológica, a exemplo da que foi montada na fazenda, para monitorar parâmetros como umidade do ar, velocidade do vento, radiação solar e volume de chuvas, dentre outros. Dependendo do estágio da cultura agrícola, levando-se em consideração as características físico-químicas do solo, é possível conhecer a demanda hídrica da planta para calcular a lâmina d`água para irrigação. “Irrigar a quantidade exata no momento certo significa melhorar o potencial produtivo da cultura sem desperdício hídrico”, disse.

Para exemplificar seu raciocínio de forma didática, Liberato citou o caso de uma lavoura de milho plantada em Perdizes, MG, sob um pivô com capacidade para irrigação de 80 ha. A área, que recebeu os mesmos tratos culturais, foi dividida ao meio para avaliação do impacto da gestão hídrica. Uma das metades (40 ha) recebeu, ao longo do ciclo, 20 mm a mais de água, divididos em duas irrigações de 10 mm, no momento do pendoamento (início da fase 3 do milho), seguindo indicação técnica adequada. Essa área melhor irrigada produziu 210 sacas de milho/ha, 10 sacas a mais/ ha do que a outra. O gasto com irrigação foi de R$ 2.000. Considerando-se R$ 30 o preço médio da saca de milho, o ganho adicional foi de R$ 12.000 (R$ 30 x 10 sacas x 40 ha). Para o consultor, o produtor deve aprender a fazer gestão hídrica: “Estudos indicam que nos próximos 30 anos o consumo de água pelas plantas será até 160% superior ao que era 20 anos atrás. O gerenciamento correto desse recurso será cada vez mais importante daqui para frente”.

Vaqueiro Empoderado

A essa altura, você deve estar se perguntando: o que fez “Dazinho”, citado logo no início dessa reportagem, mudar de ideia e usar o aplicativo de monitoramento de rotina na fazenda? Uma boa conversa com o gerente Dil e um curso de capacitação promovido pela Prodap para todos os funcionários da Esplanada. A seu modo, num misto de simplicidade e perspicácia, ele relata essa experiência: “No primeiro dia (de treinamento) foi ‘brabo’, porque eu tava meio bruto, mas depois fui pegando o jeito. Se não encarasse essa realidade, teria de encarar em outro canto que fosse, porque cedo ou tarde a tecnologia vai chegar nas fazendas”, disse.

Para Rafael Mendes, gerente comercial da Prodap, os vaqueiros se sentem “empoderados” na medida em que percebem que seu trabalho ajuda na tomada de decisões. “A partir da coleta dos dados por parte da equipe de campo sobre distribuição de sal nos cochos, altura do capim nos piquetes, condições das instalações, por exemplo, o software gera insights para o vaqueiro sobre seu próprio trabalho. Com isso, ele se tornam mais participativos na solução de problemas”, diz Mendes. No parâmetro “altura do pasto”, por exemplo, o aplicativo oferece três opções de coleta de dados: entrada, saída e aferição de rotina. O vaqueiro faz três medições na área e digita os números na interface do aplicativo, informando se a altura daquela pastagem está acima, abaixo ou dentro do esperado, o que melhora o manejo.

Quando este repórter visitou a Fazenda Esplanada, para acompanhar o Open Farm da RedeAgro, fez questão de obsrvar o trabalho de Dazinho para ver como ele estava lidando com seu “novo parceiro de lida”. Fomos ao piquete 8. “Cocho vazio. Tenho de abastecer. Para esse total de animais (50), coloco um saco de suplemento. Como está o acesso? Está bom. A estrutura precisa de reparo? Não. Vou avançando”, narrou ele, sem desprender os olhos e os dedos da tela do celular. Pela desenvoltura, nem sinal de “friagenzinha” na barriga. “É muito fácil. Hoje, eu até oriento aqueles que ainda não aprenderam”, me disse ele, com uma modéstia cativante. Antes de concluir o trabalho e a entrevista, Dazinho ainda soltou a frase – “Ah, se eu conhecesse esse aplicativo há mais tempo, teria facilitado muito a minha vida” –, e me arrancou uma sonora gargalhada.

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