A mastite é considerada uma das doenças que mais causa prejuízo para toda a cadeia leiteira.
Esta perda é devido ao custo do descarte de leite com alteração ou resíduo de antibióticos, reposição de animais descartados, gastos com medicamentos e serviços veterinários, redução na produção, entre outras razões.
Para o controle e prevenção desta doença, é importante que você saiba tudo sobre este assunto, e nesse texto você verá:
- O que é mastite bovina?
- Tudo sobre mastite subclínica
- Tudo sobre mastite clínica
- O que causa a mastite bovina
- Quais são os fatores de risco
- Como tratar
E muito mais!
O que é mastite bovina?
A mastite bovina é uma inflamação da glândula mamária ocasionada por microrganismos que colonizam o canal do teto e se multiplicam.
Quando o sistema imunológico da vaca detecta a presença destes microrganismos, os leucócitos, que são células de defesa do organismo, iniciam a resposta inflamatória na tentativa de eliminar este agente causador.
A mastite pode se apresentar de duas formas: clínica e subclínica.
Mastite Subclínica
A mastite subclínica é caracterizada por não apresentar alterações perceptíveis no leite e na vaca.
No entanto, promove uma queda considerável na produção, há alterações na composição do leite (aumento dos teores de cloro, sódio e proteínas do soro e diminuição dos teores de caseína, lactose e gorduras) e aumento de células somáticas.
Dentre as formas de manifestação da mastite, a subclínica ainda é considerada a de maior prejuízo devido à dificuldade de detecção, período de manifestação e grande redução da produção de leite.
Segundo a EMBRAPA, a estimativa é que rebanhos brasileiros afetados com a mastite subclínica produzam entre 25% e 42% menos leite.
Ainda segundo o órgão, nos Estados Unidos os gastos com a queda de produção de leite são responsáveis por quase 70% dos custos com a doença. Ou seja, além de um sinal para a presença da doença em seu rebanho, esse indicador é um alerta para prejuízos financeiros para a sua propriedade.
Abaixo, apresentamos um quadro que faz a relação entre os índices CSS — falaremos deles logo em seguida —, a porcentagem do rebanho infectado e a perda de leite.
O grande problema é que há uma prevalência deste tipo de mastite nas fazendas.
Acredita-se que para cada 1 caso de mastite clínica, há 15 a 40 casos de mastite subclínica.
Devido à falta de sinais claros de inflamação, são necessários testes auxiliares para o diagnóstico, como contagem de células somáticas (CCS) e California Mastitis Test (CMT).
Contagem de células somáticas (CCS)
A análise da CCS é realizada em laboratórios de qualidade do leite credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e se baseia na contagem de células inflamatórias, neutrófilos e células epiteliais.
Os valores de referência para o diagnóstico são:
Quando há valores de CCS superiores a 200.000 cel/mL, temos como consequência perdas de produção, menor qualidade do leite e, consequentemente, perdas de bonificação no pagamento pelas indústrias.
California Mastitis Test (CMT)
O CMT é um teste que pode ser realizado na sala de ordenha ou a campo. Este método se baseia na contagem de células somáticas de forma indireta.
Quando o reagente utilizado se mistura com o leite, ocorre o rompimento da membrana das células presentes na amostra e é iniciada uma reação que formará um gel.
Quanto maior a coagulação deste gel, maior é a CCS.
Mastite Clínica
Já a mastite clínica gera alterações visíveis no leite, como grumos, coágulos e alteração de cor. Além disso, pode provocar inchaço e vermelhidão nos tetos.
A mastite clínica é classificada em 3 escores de acordo com a sua gravidade, podendo ser:
- Nível 1: Só apresenta alterações no leite
- Nível 2: Modificações no leite e no teto
- Nível 3: Alterações sistêmicas na vaca, como febre e falta de apetite
Teste da caneca de fundo preto
O diagnóstico é feito a partir do teste da caneca de fundo preto, que deve ser realizado antes de toda ordenha e com todas as vacas.
Este teste consiste em retirar os 3 primeiros jatos de cada teto dentro de um recipiente e observar, cuidadosamente, se há alguma alteração no leite, como grumos, pus, presença de sangue ou coloração alterada.
Indicadores de mastite clínica
Estes indicadores são importantes para compreender a situação da fazenda e monitorar a eficiência dos procedimentos realizados para o controle.
Na tabela abaixo são exibidos os principais indicadores, como calcular e a meta esperada para considerar que o rebanho está saudável.
Um dos principais indicadores é a taxa de incidência da mastite clínica. Esta análise é importante para quantificar quantas vacas no mês ou no ano tiveram a mastite clínica dentro da propriedade para constatar se a doença está controlada ou não.
É importante, também, conhecer a porcentagem de casos clínicos recorrentes. A vaca que já teve mastite clínica anteriormente é um ponto de atenção, pois a chance de tratamento eficaz neste caso é menor.
De maneira prática, é estabelecido como casos novos de mastite aqueles que ocorrem em intervalo de 14 a 21 dias, entre uma infecção e outra.
Um outro indicador importante é a análise de mastite por quartos mamários. Deve-se conhecer a quantidade de casos de inflamação naquele quarto e o número de repetições, pois isso pode reduzir consideravelmente a produção de leite.
O que causa mastite?
A diversidade das causas de mastite já passa de 130 diferentes microrganismos.
Por isso, para uma boa estratégia de tratamento e controle, a causa exata deve estar bem clara.
Esta identificação é feita por meio de análises microbiológicas.
Os resultados que podem ser apresentados nesta análise microbiológica são classificados em dois grandes grupos, baseados na origem da bactéria e no modo de transmissão, sendo estes: agentes causadores de mastite contagiosa ou agentes causadores de mastite ambiental.
Mastite contagiosa
A mastite contagiosa é causada por microrganismos comuns no corpo do animal e a transmissão ocorre de uma vaca doente para as vacas saudáveis do rebanho.
É muito comum que a transmissão destas bactérias aconteça durante a ordenha, devido a contaminação dos utensílios utilizados ou das mãos dos ordenhadores.
Os patógenos contagiosos causam mastite subclínica de caráter crônico, com alta CCS e podem apresentar também manifestações clínicas
Os principais agentes causadores deste tipo de mastite são os Streptococcus agalatiae, Staphylococcus aureus e Corynebacterium bovis.
Mastite ambiental
Neste caso, a bactéria está no ambiente frequentado pelas vacas, como o lugar onde dormem, deitam ou onde acontece a ordenha.
Os patógenos ambientais causam, principalmente, mastite clínica de curta duração
Os principais agentes causadores da mastite ambiental são divididos em dois grupos principais: os Streptococcus ambientais (Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus uberis) e os coliformes (Escherichia coli, Klebsiella sp. e Enterobacter sp).
Neste gráfico, no qual foram avaliadas 24.481 fazendas com casos de mastite clínica, nós conseguimos avaliar a incidência (em porcentagem) dos diferentes agentes causadores.
Dentre os gram-positivos, que estão representados em azul, é possível inferir que os maiores causadores de mastite são Streptococcus agalatiae/ dysgalactiae (22%) e os Staphylococcus não-aureus (16%).
Já entre os gram-negativos, representados em vermelho, o maior número de casos é causado por Escherichia coli (13%).
Quais são os fatores de risco da mastite?
Os fatores de risco são condições e situações que elevam as chances de casos de mastite na fazenda.
Estes fatores podem estar ligados a três fontes: rebanho, vaca ou úbere.
Fatores relacionados ao rebanho:
Os cuidados com a higiene, tanto das vacas quanto do ambiente, o conforto dos locais onde elas ficam e as instalações adequadas ao número de animais são situações que, se não forem pensadas e desempenhadas com muita cautela, a exposição dos tetos das vacas aos agentes causadores de mastite será muito grande.
A nutrição é também um fator importante, pois está diretamente relacionada com a capacidade de resposta imune da vaca.
Em relação ao clima, os períodos mais quentes e úmidos são mais desafiadores quanto a ocorrência de mastite quando comparados ao clima frio e seco.
Quanto ao perfil de agentes causadores, deve-se observar se na fazenda há predominância de mastite ambiental ou contagiosa para que os devidos cuidados sejam tomados.
Fatores relacionados à vaca:
O nível de produção é um fator de risco importante, pois as vacas com maior produção têm maior desafio metabólico e tempo de ordenha, aumentando as chances de mastite.
Além disso, o número e estágio de lactação também são fatores que aumentam os riscos da doença, visto que vacas que estejam no estágio inicial de lactação têm um grande desafio no que se refere ao metabolismo e imunidade.
Outro fator é a conformação de úberes e tetos, pois pode aumentar a dificuldade na ordenha. É, inclusive, uma característica importante na seleção genética do gado leiteiro, ultimamente.
Veja também: Como secar uma vaca de forma segura em 7 passos simples!
Fatores relacionados ao úbere:
Vacas que apresentam tetos com problemas de hiperqueratose, geralmente causados por mau funcionamento da ordenha, têm maior risco de desenvolver mastite.
A chance de ocorrência da doença é aumentada de 20 a 30% quando comparados à uma vaca com boa saúde do úbere.
Como tratar a mastite
A mastite pode ser auto resolutiva, ou seja, a vaca pode apresentar a cura espontânea, mas ela também pode ser controlada nos rebanhos por meio do:
- Descarte de vacas crônicas;
- Tratamento seletivo de vaca seca;
- Tratamento com antimicrobianos;
Esse último tem sido a principal arma para o controle da mastite nas vacas em lactação, mas alguns fatores interferem no sucesso desse tratamento, são eles:
Características da vaca e do rebanho
O sucesso do tratamento da mastite está diretamente ligado às características do animal, como dias em lactação, idade e casos anteriores de mastite.
Quanto mais avançada for a idade do animal e o seu DEL, menor será a taxa de cura, assim, primíparas com menos dias em lactação maior probabilidade de cura quando comparadas com as outras vacas do rebanho.
No Smartmilk, software de gerenciamento das atividades de pecuária leiteira, é possível avaliar os casos de mastite clínica que ocorreram no rebanho, bem como as informações do animal acometido e seu respectivo tratamento.
É possível ainda, caso não haja cura espontânea, inserir um tratamento para uma mastite que foi diagnosticada anteriormente ou mesmo inserir um novo tratamento caso o protocolo anterior não tenha sido efetivo.
Outro fator que determina o sucesso do tratamento é a duração dos casos.
Quanto mais antigo for um caso, menor será a taxa de cura, por isso é tão importante a realização do teste da caneca e a detecção de mastite clínica precocemente, vacas que sabidamente são crônicas tem menor taxa de cura.
Na análise de CCS do Smartmilk é possível ver a saúde da glândula mamária com base na CCS individual das vacas.
Os valores de CCS em roxo indicam que o animal possui uma infecção subclínica crônica, assim, caso haja a manifestação clínica da mastite, a chance de cura será menor quando comparada com vacas não crônicas.
Patógenos causadores de mastite
Patógenos como Leveduras, Prototheca spp, Nocardia spp. e Mycoplasma spp. não respondem bem ao tratamento com antibiótico intramamário pois são altamente resistentes.
Os estreptococos ambientais e estafilococos não-aureus, por outro lado, apresentam taxas de cura que podem chegar a 70%.
A taxa de cura das infecções causadas por Staphylococcus aureus também são baixas, inferiores a 30%.
Isso ocorre porque essa bactéria gram positiva tem caráter contagioso e algumas cepas, após se instalarem na glândula mamária, tem a capacidade de formar biofilmes, tecido fibrosos e até microabscessos, dificultando assim a chegada do antibiótico até o local da infecção.
Ao contrário do que acontece com o S. aureus, em infecções causadas por Escherichia coli a taxa de cura espontânea é extremamente alta, acima de 80%, assim pode-se evitar o tratamento nesses animais a fim de reduzir o uso de antibióticos e evitar o descarte de leite.
Protocolo de tratamento de mastite
Apesar do tratamento com antibiótico intramamário ser uma das principais formas de combater a mastite durante a lactação, é necessário que haja cautela.
O ideal é a instalação da cultura microbiologia na fazenda para que o tratamento seja feito de forma seletiva.
Mas como esse recurso ainda não está ao alcance de todos, outros parâmetros podem ser considerados no momento de tratar o animal.
De maneira geral, recomenda-se que animais com mais de três casos clínicos durante a lactação e/ou animais com outras doenças crônicas não sejam tratados, pois a chance de sucesso no tratamento é baixa.
O protocolo exato do tratamento de mastite deve ser elaborado e orientado por um médico veterinário.
O uso inadequado de medicamentos pode selecionar microrganismos resistentes, dificultando a resposta a futuros tratamentos.
Além disso, os cuidados com a higiene do local de ordenha e do ordenhador e todas as boas práticas para este processo devem ser seguidas.
Veja abaixo a ordem correta para ordenha do seu rebanho para minimizar os riscos de contaminação:
- animais sadios;
- vacas multíparas sadias e sem histórico de mastite;
- animais com histórico de mastite curadas;
- vacas em tratamento;
- animais com mastite subclínica (CCS>200.000 UFC/mL);
- vacas com mastite clínica (leite deve ser descartado).
Para que o controle da mastite seja feito com precisão e de forma assertiva, reduzindo todos os prejuízos causados por esta inflamação, é muito importante ter uma gestão eficiente dos dados da saúde do rebanho.
O Prodap Smartmilk, o software de gestão de propriedade leiteiras mais completo do Brasil, faz todas essas análises de forma fácil, auxiliando a tomada de decisão para o protocolo mais adequado de tratamento dos seus animais.
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