*Matéria originalmente publicada no Valor Econômico, em 24/11/2020.
Por Luiz Henrique Mendes — Valor Econômico
Da consultoria pecuária à inteligência artificial. Fundada no fim da década de 1970 pelo professor universitário Sérgio Reis, a indústria de suplemento mineral Prodap apertou o passo para investir em tecnologia e atender às necessidades dos produtores de gado do século XXI.
Para um segmento conhecido pela extrema pulverização da concorrência, a oferta de ferramentas que auxiliem o pecuarista a medir a produtividade no campo pode ser o segredo para fidelizar clientes, impulsionando a demanda dos suplementos produzidos nas fábricas de Barra do Garças (MT) e Santa Luzia (MG).
É com essa aposta que a mineira Prodap, que na década passada foi pioneira em software de gestão para a pecuária, quer crescer. Com um faturamento de cerca de R$ 100 milhões por ano – grande parte gerado pelos suplementos minerais para bovinos -, a companhia vai lançar em 2021 um serviço de inteligência artificial que auxiliará vaqueiros e gestores de fazendas a incrementar o ganho peso do rebanho e também a produção de leite.
Para concorrer em rentabilidade com a agricultura – especialmente culturas como soja -, a pecuária terá de ampliar o pacote tecnológico e a Prodap quer aproveitar esse movimento. Para isso, a companhia teve de realizar uma ampla reformulação estratégica em 2017, adotando uma cultura mais leve, próxima do que são as startups atualmente.
“Com a pecuária ficando para trás [da agricultura], tenho uma oportunidade. Mas o perfil precisava mudar. Tenho que ser uma empresa de tecnologia”, reconheceu o veterinário Leonardo Sá, presidente-executivo da Prodap desde 2012.
Nesse processo, a empresa aposentou o velho software de gestão, produto lançado em 2000 e que chegou a contar com 14 mil usuários. No lugar do software, a companhia mineira desenvolveu uma plataforma dedicada à pecuária de corte, batizada como Views, e outra para pecuária leiteira, a Smartmilk.
O conceito de plataforma, que é aberto à agregação de tecnologias de terceiros, permite a Prodap acelerar a oferta de ferramentas disponíveis ao pecuarista. Entre elas, estão imagens de satélite que ajudam a medir a quantidade de capim. Outro serviço é um sensor instalado nos bebedouros que avalia a gestão de água. Em um confinamento, a oferta insuficiente da bebida pode reduzir o consumo de matéria seca, afetando o ganho de peso do gado.
“Tem muita coisa que é desenvolvida por nós, mas fazemos parceria para ganhar velocidade. A plataforma é ‘open inovation’”, disse Sá, citando a australiana Moovement, que forneceu a tecnologia para a gestão do bebedouro, e a Argustech, que traz as imagens de satélite.
Do time de 70 pessoas da área de TI, também saem produtos próprios. Um dos mais novos é uma câmera 3D que promete facilitar a gestão de confinamentos de grande porte ao medir a sobra de ração no cocho. O que hoje é feito diariamente por funcionários no olho passará a ser calculado com precisão. “A câmera vai determinar a quantidade exata de comida a ser dada para cada lote para não ter desperdício”, afirmou.
Mas a menina dos olhos de Sá é a Lore, que ele considera ser a primeira camada de inteligência artificial da pecuária. No momento, a tecnologia está em testes em dez clientes. “Ao invés de depender do vaqueiro tirar o relatório, a Lore vai interpretar o indicador, fazer sugestões e previsões de rendimento”, afirmou.
A intenção da Prodap é que o serviço de inteligência artificial seja cobrado por tipo de uso. De certa forma, essa já é a lógica da plataforma Views, cujos pagamentos podem variar de R$ 100, em seu pacote básico, a até R$ 10 mil por mês.
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