Categoria: Gado de Leite

Conceitos básicos para a formulação de dietas de vacas leiteiras

Data: 17/11/20

Autor: Marcelo Saldanha

A formulação de dieta funciona como uma otimização dos gastos com alimentação para reduzir os custos, sem diminuir a produtividade das vacas.

Neste texto você vai entender o que é dieta, por que formular para bovinos leiteiros e conhecer um pouco mais os nutrientes que compõe a alimentação do seu rebanho e sua importância!

Vacas comendo a dieta

 

Para entender sobre dieta para os bovinos leiteiros, é importante alguns conhecimentos prévios:

A vaca é um ruminante, ou seja, o alimento passa para uma câmara de fermentação pré gástrica, chamada de rúmen, antes de chegar no estômago verdadeiro e no intestino.

Por isso, é de extrema importância ter cuidados com o rúmen para mantê-lo sempre saudável, produzindo muita proteína microbiana e sem acidose para melhor performance.

Outro ponto importante é que na alimentação de vacas leiteiras há preocupações além da produção de leite. Por exemplo, no momento do parto há grande exigência do organismo da vaca. Por isso, a dieta deve ser adaptada para manter a saúde da vaca em boas condições, garantir a lactação e um bom desempenho do sistema imune.

O que é dieta?

A dieta é tudo que o animal consome por dia, forragem ou concentrado, incluindo a água.

Veja mais: Água para vacas leiteiras: o nutriente mais importante

agua para bovinos

A dieta ideal é aquela que irá atender à demanda nutricional do animal usando combinações de ingredientes que minimizarão o custo por Kg de matéria seca. 

A composição e a quantidade de concentrado que será consumido por dia dependem da composição e disponibilidade da forragem. 

Para garantir que a dieta formulada seja similar à consumida é preciso conhecer o teor de matéria seca e a composição de cada ingrediente, além de um manejo nutricional que não induza a seleção pelo animal. 

Por que formular dietas para suas vacas leiteiras?

Independentemente do sistema de produção, os alimentos concentrados representam o maior custo da atividade leiteira. O grande desafio é minimizar este custo por litro de leite produzido. 

Por que não podemos simplesmente diminuir a quantidade de concentrado? 

Esta não é uma boa estratégia. Uma vaca que consome mais, mas produz muito, diminui o custo de concentrado por litro de leite, pois, normalmente, diluem a mantença e torna o animal mais eficiente, tanto biológica quanto financeiramente. 

Com a formulação de dietas, a quantidade de concentrado será calculada com a finalidade de manter uma alta produção de leite e minimizar o custo.

A dieta tem grande influencia, inclusive, na composição e qualidade do leite das vacas!

Um outro ponto que justifica a formulação de dietas é que o custo com forrageiras corresponde de 10% a 15% do custo da produção de leite, enquanto o concentrado representa 40% a 60% deste valor. 

Isto nos mostra a necessidade de forrageiras de alta qualidade, pois estas apresentam alta digestibilidade e, consequentemente, reduzem o teor de concentrado exigido que será calculado com exatidão. 

Veja todas as boas práticas que o manejo alimentar para bovinos leiteiros exige!

manejo alimentar bovinos

Classificação dos alimentos na nutrição de bovinos leiteiros

O primeiro passo do processo de balanceamento de dietas para animais é conhecer os alimentos.

De acordo com os resultados de análises químico-bromatológicas, os alimentos podem ser classificados da seguinte maneira:

Classificação dos alimentos

Volumoso

São os alimentos com nível de fibra igual ou superior a 18%. Fornecem nutrientes aos animais de forma mais econômica que os concentrados e são fundamentais para o perfeito funcionamento do aparelho digestivo. Eles podem ser: 

– Volumosos secos: fenos, palhadas, cascas de grãos, etc. 

– Volumosos úmidos: silagens e pastagens.

Concentrados

É a mistura composta por macrominerais, ingredientes ou aditivos que, associada a outros ingredientes em proporções adequadas, constitui uma ração. Os alimentos concentrados são os que apresentam nível de fibra inferior a 18% na matéria seca. São classificados como: 

– Proteico: com 20% ou mais de proteína bruta (PB) na matéria seca. Exemplos: farelo de soja.

– Energético: com menos de 20% de proteína bruta (PB) na matéria seca. Exemplos: farelo de arroz e milho

Aditivos

São substâncias ou microrganismos adicionados à dieta que podem provocar mudanças metabólicas que influenciam positivamente o desempenho animal, com ou sem valor nutricional.

Dentro dos aditivos, podemos citar como exemplos: 

– Promotores de crescimento, como antibióticos, hormônios, probióticos; 

– Preservadores da qualidade: antioxidantes, antifúngicos, sequestrantes. 

– Melhoradores da qualidade física do alimento: melaço, aglutinantes, flavorizantes, aromatizantes, acidificantes.

Premix

É a pré-mistura de aditivos e veículo ou excipiente, que facilita a dispersão em grandes misturas. Não pode ser fornecida diretamente aos animais.

Núcleo

É a pré-mistura composta por aditivos e macrominerais, contendo ou não veículo ou excipiente, que facilita a dispersão em grandes misturas.

Não pode ser fornecido diretamente aos animais.

Principais nutrientes

Os nutrientes presentes nos alimentos podem ser divididos em macronutrientes (proteínas, carboidratos e lipídeos) e micronutrientes (vitaminas e minerais).

Proteínas

As proteínas são macromoléculas formadas por aminoácidos interligados presentes em todas as células. 

Elas apresentam diversas funções, como: componentes estruturais, funções enzimáticas, hormonais, recepção de estímulos hormonais e armazenamento de informações genéticas.

Para os cálculos das dietas de ruminantes, utiliza-se o termo Proteína Bruta (PB), que corresponde ao resultado da análise laboratorial do teor de nitrogênio de uma amostra de alimento, multiplicado por 6,25 (baseado na premissa que, em média, o N corresponde a 16% do peso da proteína total dos alimentos). 

Porém, o nitrogênio analisado contempla, também, o nitrogênio não proteico, representado por aminoácidos livres, peptídeos, ácidos nucléicos, aminas e amônia. 

Isso impacta o fornecimento real de proteína ao ruminante e não traz informações suficiente para formular dietas e muitas vezes explica a baixa eficiência na utilização do nitrogênio na prática.

Os aminoácidos absorvidos e utilizados para as funções vitais, mantença, gestação e lactação são chamados de Proteína Metabolizável. Esta é a fração de proteína utilizada pelos modelos nutricionais atualmente e que mais se aproxima do que o animal de fato utilizará.

Carboidratos

Os carboidratos (CHO) representam 60-70% da composição das rações para bovinos leiteiros, são a fonte de energia mais importante e os principais precursores da gordura e do açúcar (lactose) presentes no leite. 

Os microorganismos presentes no rúmen permitem que as vacas obtenham energia utilizando os carboidratos fibrosos (celulose e hemicelulose), que estão ligados à lignina que está presente na parede celular das plantas.

As características nutritivas dos carboidratos das forrageiras dependem dos açúcares que os compõem, das ligações entre eles estabelecidas e de outros fatores de natureza físico-química. 

Assim, os carboidratos das plantas podem ser agrupados em duas grandes categorias: os estruturais com menor degradabilidade, e os não estruturais com maior degradabilidade. 

Os carboidratos encontrados no conteúdo celular são os chamados não estruturais. Estes, incluem a glicose e frutose e os carboidratos de reserva das plantas, como o amido, a sacarose e as frutosanas. 

Já os carboidratos estruturais incluem, normalmente, aqueles que constituem a parede celular, representados principalmente pela pectina, hemicelulose e celulose, que são normalmente os mais importantes na determinação da qualidade nutritiva das forragens. 

Lipídeos

Lipídios são utilizados na dieta dos bovinos leiteiros para aumentar a densidade energética das dietas, uma vez que a gordura tem 2,25 vezes mais conteúdo energético que os carboidratos. 

Além de serem mais calóricos, os lipídeos não são fermentados no rúmen, não produzem Ácidos Graxos Voláteis (AGVs) e com isso não afetam o pH ruminal.

Porém, quando são utilizados em altas quantidades, a digestão da fibra, dentre outros fatores, pode ser afetada por interferir na aderência microbiana. E, como consequência, pode reduzir a produção de AGVs que serão utilizados diretamente na produção de gordura do leite.

Várias fontes de lipídios têm sido extensamente pesquisadas, principalmente fontes de baixa degradabilidade ruminal, uma vez que os microrganismos do rúmen são bastante sensíveis à presença de lipídeos insaturados. 

O óleo de palma, por exemplo, é uma alternativa segura para evitar os efeitos negativos na redução de gordura do leite. 

Vitaminas

As vitaminas são essenciais na nutrição de vacas leiteiras, pois participam de diferentes processos na manutenção da saúde, crescimento e reprodução.

Elas estão presentes nos alimentos em pequenas quantidades e o consumo insuficiente ou exagerado de certas vitaminas pode ocasionar distúrbios nutricionais.

As vitaminas são classificadas em dois grupos: 

– Lipossolúveis: A, D, E, K 

– Hidrossolúveis: tiamina, riboflavina, niacina, ácido pantotênico, piridoxina, ácido fólico, cianocobalamina (B12), colina, biotina, inositol, ácido ascórbico, ubiquinona, ácido orótico, etc.

Dietas formuladas com vitaminas devem ser utilizadas segundo a necessidade animal, que varia conforme a espécie e categoria.

As vitaminas A, D, C e E devem ser fornecidas na dieta dos ruminantes, já as vitaminas do complexo B e K são sintetizadas pelos microorganismos do rúmen.

Minerais

Os minerais são elementos que desempenham diversas funções essenciais no organismo de bovinos leiteiros, tanto como íons dissolvidos em líquidos orgânicos, como constituintes de compostos essenciais

Os microrganismos ruminais são dependentes dos minerais para seu crescimento e metabolismo. A baixa concentração reduz as atividades de digestão de fibra e a síntese de proteína microbiana. 

Com essas atividades reduzidas, o balanço de energia (carboidratos estruturais ou fibrosos) e o de proteína (proteína metabolizável) são comprometidos e as vacas não darão o retorno esperado.

Os minerais são classificados em dois grandes grupos:

– Macrominerais: Ca, P, Mg, Na, Cl, S, K

– Microminerais: Co, Cu, Fe, I, Mn, Zn, Mo, Se, F (expressos em ppm, ppb)

Os macrominerais são utilizados principalmente em funções estruturais e balanço ácido-base do organismo e são os mais requeridos pelos animais.

Já os os microminerais são utilizados principalmente como co-fatores de enzimas, vitaminas e hormônios e são utilizados pelo organismo animal em menores quantidades. 


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