Os casos de tripanossomose vêm crescendo em todo o país. Entenda um pouco mais sobre a doença: quais os sinais clínicos, como é transmitida, as formas de diagnostico e como tratar.
O que é a tripanossomose bovina?
A tripanossomose bovina é uma doença causada pelo protozoário Trypanosoma vivax.
Também conhecida como tripanossomíase bovina, é uma enfermidade cuja ocorrência vem crescendo de maneira alarmante em todo o país e acomete rebanhos de leite e de corte.
No Brasil, casos da doença já foram reportados em vários estados, como Pará, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
A doença é responsável por inúmeros prejuízos financeiros, relacionados principalmente com a morte dos animais, abortos e queda na produção leiteira. Alguns pesquisadores relataram queda de 25% na produção de leite e mais de 45% na taxa de prenhez em alguns surtos da doença.
Sinais clínicos
O principal sinal clínico da doença é uma anemia profunda e, por esta razão, pode ser confundida com outras parasitoses (anaplasmose, babesiose ou verminoses).
A anemia pode ser acompanhada por caquexia, que é um emagrecimento progressivo e acentuado. Também são relatados outros sintomas inespecíficos, como apatia, febre, linfadenopatia, e até mesmo alguma sintomatologia neurológica.
Existem animais que podem se tornar assintomáticos, ou seja: são portadores do Trypanosoma vivax mas não apresentam sinais clínicos. Estes animais são uma fonte de infecção, podendo transmitir a doença para animais saudáveis dentro do rebanho.
Além disso, quanto mais debilitado o hospedeiro, mais severa é a doença. Animais com problemas nutricionais ou sanitários, com doenças concomitantes, sofrem mais com a tripanossomose.
Como ocorre a transmissão da Tripanossomose bovina
Como o T. vivax é um hemoparasita, sua transmissão se dá principalmente pelo contato de um animal sadio com o sangue contaminado de outro animal.
Moscas hematófagas como os tabanídeos (mutucas), a mosca-dos-estábulos (Stomoxys sp.) e a mosca-dos-chifres (Haematobia irritans) ajudam na propagação do T. vivax.
Veja também: Parasitas em bovinos – Como fazer o controle estratégico parasitário do rebanho leiteiro
Objetos que favoreçam o contato com o sangue de animais infectados também possuem potencial de transmitir a doença. Este é o caso de materiais e instrumentos usados em cirurgias e procedimentos, como lâminas, agulhas, bisturis, entre outros.
Em fazendas leiteiras ainda é muito comum o uso de ocitocina durante a rotina de ordenha. Uma situação bastante comum é o reaproveitamento de agulhas e o uso compartilhado para vários animais.
Muitas vezes a justificativa para isso é a redução de custos, porém o que não é considerado é o fato de que o valor de um animal perdido para a tripanossomose é muito maior do que o preço a ser pago pelas agulhas e seringas descartáveis.
O uso de seringas individuais evita não apenas a transmissão de tripanossomose, mas de outras doenças como a leucose e a brucelose.
Um animal infectado pode infectar vários animais sadios. Quando há mais de 20% dos animais infectados, considera-se que todo o rebanho está infectado, dada a rapidez da transmissão entre animais por seringas.
A entrada de novos animais na fazenda é a maior porta de entrada para a doença em um rebanho saudável. Animais só devem ser considerados livres da doença após realização de exames e, ainda assim, a quarentena é recomendada.
Imagine a seguinte situação…
Você, produtor de leite, decide comprar algumas vacas do seu vizinho. Você escolhe as mais bonitas e, obviamente, que aparentam estar mais saudáveis.
O que você não sabe é que essas vacas são portadoras do T. vivax!
O stress ocasionado pelo transporte e pela mudança de lote na fazenda pode provocar uma queda na imunidade, fazendo com que essas vacas passem a manifestar os sinais clínicos e apresentar uma parasitemia, que é quando o parasita está em circulação na corrente sanguínea.
Assim, as vacas bonitas que você comprou passam a ser fonte de infecção para as vacas sadias que você já tinha no seu rebanho. Viu como é importante garantir a procedência do gado?
Quando um novo rebanho é infectado, a mortalidade pode ser baixa nos primeiros meses. Com o passar do tempo, novos animais vão se contaminando e começam a exibir mais sinais clínicos e a taxa de mortalidade pode aumentar.
Como fazer o diagnóstico da Tripanossomose bovina
A tripanossomose é uma doença de difícil diagnóstico por causa das peculiaridades do parasita.
O tripanossoma possui uma capacidade de evasão do sistema imune, se alojando em locais fora da circulação sanguínea, como o humor aquoso (líquido presente nos olhos) e no líquor (líquido que protege o cérebro e o sistema nervoso).
O diagnóstico definitivo é baseado no exame clínico, em achados de necrópsia, associação de fatores de risco, histórico dos animais e exames laboratoriais (parasitológicos, sorológicos e moleculares).
Vamos entender um pouco da dinâmica da infecção
Fase aguda: no início da infecção temos as chamadas ondas parasitêmicas, ou picos de parasitemia. Nestes picos é mais fácil visualizar o parasita no esfregaço sanguíneo.
Fase crônica: depois de alguns dias de infecção a parasitemia cai. Isso nos dá duas opções de interpretação: o organismo está destruindo o parasita ou ele está saindo da circulação sanguínea e migrando para outros locais do organismo, “enganando” o sistema imunológico do hospedeiro.
Tipos de testes que podem ser realizados para o diagnóstico
- Exames parasitológicos: são testes mais seguros, porém métodos que dependem da visualização do parasita no sangue nem sempre coincidem com a fase aguda da doença (fase de maior parasitemia). Exemplos: gota espessa, teste de Woo.
- Exames sorológicos: são importantes para definir qual o nível de infecção dos rebanhos. Mas se os animais vêm sendo tratados, os exames podem indicar que os animais já foram infectados, não necessariamente que estão infectados no momento. Exemplos: RIFI, ELISA.
- Exames moleculares: estes exames procuram pelo DNA do parasita e, se o resultado for positivo, quer dizer que o tripanossoma está presente. O ideal é que sejam associados a testes sorológicos. Exemplo: PCR.
Tratamento da Tripanossomose bovina
O plano de tratamento pode ser individual ou coletivo, onde todo o rebanho é tratado.
Tratamento individual: pode ser adotado em situações onde não existem evidências de que todo o rebanho esteja infectado. Pode ser indicado para animais vindo de outros rebanhos e animais de alto valor que estão infectados. Mesmo sendo tratados, esses animais devem ficar isolados do resto do rebanho.
Tratamento do rebanho: primeiro é necessário verificar o status da infecção e depois descobrir o percentual do rebanho que está infectado. O monitoramento durante o tratamento é importante para acompanhar a eficácia e para identificar animais potencialmente assintomáticos.
De maneira geral, as estratégias de tratamento só podem ser definidas após o diagnóstico feito por um médico veterinário.
6 Dicas para o controle e prevenção da Tripanossomose bovina
Confira as melhores dicas para manter o seu rebanho livre da tripanossomose bovina:
1- Desinfecção de agulhas
Utilize mais agulhas do que você precisa para fazer a vacinação.
Ao vacinar um animal, coloque a agulha por um minuto em solução de álcool 70% ou clorexidine 1%.
É importante respeitar o tempo de ação do produto e enxaguar o material desinfetante.
Confira outras dicas de desinfecção de agulhas e seringas clicando aqui
2- Controle de vetores
Normalmente, as instalações dos animais são ambientes ricos em umidade e matéria orgânica, fatores importantes para a manutenção do ciclo das moscas.
Por isso é importante adotar medidas como remoção das fezes, construção de uma esterqueira, uso concomitante de armadilhas para as moscas, entre outras ações.
3- Controle de helmintos e de carrapatos
O uso de endectocidas para reduzir as infestações por estes parasitas é muito útil, pois assim reduz-se a probabilidade de contaminação por outras doenças e também a espoliação sanguínea.
4- Monitoramento do rebanho
Animais doentes, anêmicos, apáticos e que apresentam problemas reprodutivos já nos indicam que algo está errado e chamam a atenção para algum problema sanitário existente na fazenda.
5- Dosagem correta do medicamento
Nos casos de tratamento é imprescindível usar doses corretas para evitar resistência.
6- O melhor tratamento é a prevenção
Dê preferência para animais de reposição do próprio rebanho ou de fazendas com um rigoroso controle sanitário para evitar a introdução do Trypanosoma vivax na fazenda.
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